26 de dez. de 2011

Em 29 de janeiro de 2009, o site Agência de Notícias da Aids publicava o perfil de Alessandra Saraiva em comemoração ao Dia da Visibilidade das Travestis. O movimento social que defende esta população lançava uma campanha nacional com o objetivo de atingir as escolas públicas para que respeitassem suas identidades de gênero. Em virtude disso, publicou-se o perfil de uma travesti e uma trans que venceram. A trans no caso é Alessandra Saraiva, segue o perfil dessa brava mulher.

Alessandra Saraiva é uma transexual que conseguiu enfrentar o preconceito no sistema de educação e hoje exerce profissão de destaque na sociedade.

29/01/2009 - 17h30

Alessandra Saraiva é manauara e transexual. Manauara é quem nasceu em Manaus. Transexual é quem nasce com um determinado sexo, mas considera-se representante legítimo do sexo oposto. Alessandra nasceu homem, porém, desde tempos imemoriais, sentia-se mulher.

“Desde criança eu me entendia como menina”, lembra. “Os meus desejos, eles sempre foram femininos”, contou, na tarde de quarta-feira (28/01), a ativista e designer de 30 anos.

“A diferença entre travestis e transexuais é o gênero”, disse. Ela explicou que a maioria das travestis não se considera homem ou mulher. Ao contrário das transexuais que, geralmente, procuram se incluir em alguns dos gêneros. “As travestis reivindicam a sua própria definição de gênero”, resume.

Para Alessandra Saraiva, o transexual típico procura adequar “o seu sexo a sua realidade de gênero”. 

Se hoje ela fala com desenvoltura sobre o tema, é bom esclarecer que não foi sempre assim. Somente aos 24 anos, quando ainda vivia na capital do estado do Amazonas, Alessandra começou a entender quem era e o que significava ser transexual. “Até então eu vivia em constante conflito existencial”, lembra a hoje balzaquiana.

O “conflito existencial” era tão grande e o “sentimento de culpa” tão arrasador que durante boa parte da sua vida Alessandra acreditou que a única solução para o seu sofrimento era a morte. Como sua família é espírita, o suícidio era algo impensável, mas ela, em muitas oportunidades, rogou para que a sua vida fosse ceifada precocemente. “Eu pedia a Deus todos os dias que eu morresse naquele dia”, contou.

A fase andrógina

A época em que mais sofreu preconceito, lembra Alessandra Saraiva, foi durante o processo de transição entre o seu antigo corpo masculino e a atual compleição feminina.

Ela classifica esse “processo” como “fase andrógina”. Após essa fase, a transexual diz que o preconceito tornou-se menos direto, mas continua existindo em determinados momentos.
Manifestações preconceituosas acontecem, por exemplo, quando Alessandra precisa apresentar algum tipo de documento no qual ainda consta o seu antigo nome.

O preconceito também varia de acordo com o lugar. “Eu sofria muito preconceito em Manaus”, recorda. A transexual, que também é formada em administração de empresas, diz que em São Paulo sempre sofreu menos discriminação do que quando comparado com o que acontecia na capital do Amazonas.

No final de 1997 e começo do ano seguinte, Alessandra fez um intercâmbio na Inglaterra durante quatro meses. Nessa época, ela começou a perceber como a sua vida poderia ser diferente fora da capital do Amazonas. “Estudar inglês foi secundário na vivência que tive em Londres”, diz.

Faz quatro anos que Alessandra mora em São Paulo. Mas antes disso, ela já havia passado alguns meses na cidade. Ela se aperfeiçou no trabalho de designer, sobre o qual, aliás, já tinha algum conhecimento, em um curso na Escola Panamericana de Artes da capital paulista.

Em Manaus, antes de se mudar definitivamente para São Paulo, ela formou-se em administração de empresas pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA).

Alessandra Saraiva namorou pela primeira vez aos 19 anos. “Foi uma relação muito tortuosa”, recorda a manauara. Mas a sua vida sexualmente ativa, lembra a designer, começou somente quatro anos mais tarde. Desde abril de 2008 ela á casada com um corinthiano de 26 anos. Embora ela odeie futebol, às vezes, acompanha o marido ao estádio.

Ela conta que conheceu o marido em um fórum de discussão virtual que tratava de questões relacionadas à sexualidade, tema que, por razões óbvias, sempre lhe interessou. “Nós nos conhecemos na internet. Nós conversamos algumas horas na internet e logo nos encontramos”, explica. Qual foi a reação dele ao saber que você era transexual? Perguntou o repórter. “Ele levou um choque”, respondeu Alessandra prontamente. Ela ressaltou, no entanto, que logo o seu futuro marido iria aceitar aquela situação com muita naturalidade.

Hoje os dois trabalham juntos na empresa de designer criada por Alessandra. O empreendimento, ainda não constituído juridicamente, já tem site e nome: Selo Próprio. A idéia, em 2009, “é formalizar” a empresa, explicou Alessandra. Graças ao seu conhecimento na área, ela criou o site da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. Na mesma entidade, ela coordena a secretaria de travestis e transexuais (a chamada “terças trans”).

A fase da libertação

“O fato de eu ter feito essa cirurgia não foi agressivo pra mim. Foi muito libertador.” A frase anterior é de Alessandra Saraiva. No início de 2008, ela fez uma operação de mudança de sexo e, finalmente, pôde adequar-se à sua identidade de gênero. Ela descreve o pós-operatório como “altamente doloroso”: o processo de cicatrização dura cerca de um mês. Mas ressalta que desde o início ficou muito feliz com a sua decisão.

“É tudo muito novo”, diz.

Por exemplo, ela conta que teve de aprender a usar absorvente e admite ter sido muito estranho quando fez xixi pela primeira vez após o procedimento cirúrgico.

Agora, ela quer adequar seu nome ao seu novo corpo. Alessandra acredita que até o final deste ano consiga a almejada mudança da sua designação. A transexual entrou com o pedido de alteração do nome na justiça em agosto de 2008.

“Já tem bastante jurisprudência nisso”, diz, confiante de que haverá uma decisão favorável ao seu caso até o final deste ano. Em 2010, quando espera já ter resolvido o problema da mudança de nome, ela pretende começar a cursar alguma pós-graduação na área de sexualidade.

Filha de pais espíritas, Alessandra tem somente uma irmã mais velha. Elas tinham gênios opostos: Alessandra era introvertida e a irmã extrovertida.

Enquanto uma ficava sozinha no quarto com os seus brinquedos, a outra tinha muitos amigos. “Nós tivemos dois momentos”, explicou. Durante a infância e adolescência, foi uma fase de pouco convívio e cumplicidade entre as duas. Foi somente na vida adulta que elas se aproximaram. “Eu tenho uma gratidão enorme pela minha irmã”, afirma.

Neste 29 de Janeiro, realiza-se em todo o país eventos para marcar o Dia da Visibilidade das Travestis, data escolhida porque há exatos cinco anos, o Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde lançou oficialmente a campanha “Travesti e Respeito.”

Para este ano, o movimento social que defende esta população lança uma campanha com o objetivo de atingir as escolas públicas para que respeitem suas identidades de gênero, pois ao deixarem de estudar, além de outros problemas, muitas travestis se tornam profissionais do sexo e se expõem à infecção do HIV.

Fonte:
Agência de Notícia da Aids acessado em 02/04/2011 às 20h05


Em 2009, Rodrigo Najar lançou um documentário sobre transexuais entitulado "Uma questão de gênero" (qualquer semelhança com o título desse blog será mera coincidência). O documentário é vencedor do 8º prêmio de Respeito à cidadania pela Associação da Parada de SP.

Contando a história de 7 transexuais, inclui-se nesse grupo Alessandra Saraiva, que foi retratada na sessão de fotos para o documentário, no filme a seguir:

E, aproveitando o ensejo, segue o trailler do documentário:



Alessandra possuía uma
coluna no site de Maitê Schneider (Casa da Maitê), na qual

relatava fatos sobre sua vida e sobre o que é ser transexual.

Seguem alguns de seus textos, deveras interessantes:

Decida-se

Ninguém nunca disse que seria fácil. Na verdade ninguém nunca disse nada, mas mesmo assim, com todo o topete de uma menina ingênua da classe média querendo ser Barbie, eu me lancei no mundo trans e resolvi assumir minha identidade feminina pra sempre e de uma vez por todas.

Ninguém disse que ia ser fácil. Também tinha família, amigos, sócios, um escritório que dependia de clientes, vizinhos, morava numa cidade de quase 2 milhões de habitantes, onde era conhecida pela sociedade, pois estudei nos mesmos colégios tradicionais e freqüentava os mesmos barzinhos e restaurantes que a galera descolada.

É fato que não comecei do zero. Não era um homenzinho padrão sociedade heteronormativa como mamãe queria. Não precisei comer todas as menininhas, e nem me casar com aquela garota, cara de assexuada virgem que me deu um filho. Mas até que eu a amava. Como irmã, ou como lésbica. E apesar de ela não saber disso, eu precisava fantasiar para sobreviver.

Minha família não era Evangélica, nem meu pai era um homofóbico que vivia repetindo que gay bom é gay morto. Imagina se ele descobre que eu sou mulher. Melhor esperar ele morrer. E o tempo passou e você ficou careca, barrigudo e peludo. Tudo bem, você não podia arriscar, agora é tarde. Será que ainda tem chance? Melhor acreditar em reencarnação... Ai, ai... Não era bem assim que sonhei a vida pra mim. – Mas e aquele general do exército de algum país europeu se operou com 70 anos. Será mesmo tarde demais pra começar algo?

Ninguém disse que ia ser fácil, mas mesmo assim eu decidi. Aonde isso vai dar? Não sei. Mas eu morria de medo de ser ridícula. Um travecão, daqueles bem feios que levavam porrada só por que saiam na rua. – isso existe? Que mundo cruel, né? E fazemos parte do mundo e somos tão cruéis quanto o mundo. E mesmo assim, eu coloquei um sutiã com bojo e fui pro show da Sandy. Minha mãe dizia: se você tem coragem, vá. E eu fui mesmo... 10 mil pessoas. Eita coragem! “Seja você, mesmo que seja estranho, seja você, mesmo que seja bizarro (...) Se mostre e eu descubro se eu gosto do seu verdadeiro jeito de ser” *.

Ninguém disse que ia ser fácil, e quando chegava em casa eu desmontava e ficava muito pra baixo, por que não queria que aquilo acabasse. Por mais ridícula que pudesse parecer a idéia, aquela era eu. E por mais insano que pudesse ser eu entrei no quarto onde estavam deitados meu pai e minha mãe e os chamei para uma conversa e disse que a partir daquele dia eu estava assumindo que era uma mulher transexual.

Ninguém dizia que ia ser fácil e tive uma crise gástrica por que não sabia o que fazer. Eu era uma mulher transexual, essa era a informação, mas o que faz uma mulher transexual? E a primeira pergunta que me fiz foi: por onde começo? E eu fui buscar terapia, pq era informação demais pra digerir sozinha. Sinceramente, as que conseguem 

sozinhas têm seu mérito, mas não tem coisa mais interessante que achar um bom terapeuta pra dividir essa carga. Se você não sabe pra onde ir, vá pro divã.

E sabe de uma coisa, ninguém disse que ia ser fácil, mas agora era bem tarde. Eu resolvi contar pros meus sócios que eu estava me assumindo como mulher. Incrivelmente, “virei” prostituta. Como eu ia fazer aquilo? Abandonar um projeto de quase 3 anos que mais me deu dor de cabeça que lucros, e essa era a verdade. Eu não pensava nos meus pais? Meu pai, um funcionário público conhecido na minha cidade, como ia ficar sua honra de ter “um filho” travesti. Não, eu fui bem egoísta, eu nem pensava nos meus sócios, eu pensava em mim, morta, de terno e gravata, num caixão. Morreu de que? Infelicidade! E morre disso? Mais do que você imagina.

Sei lá se meus peitos de espuma incomodavam minha empregada evangélica, mas eu almoçava com todo mundo na mesma mesa. Eu tive sorte, mas não sei se acredito na sorte. O que vocês chamam de sorte eu chamo de decisão. Meus pais podiam fazer da minha vida um inferno ou dar um refresco e eles optaram pela segunda opção. Isso foi uma escolha feliz, decidiram certo e com certeza por que evitou muita dor de cabeça pra todo mundo. Acredite, aceitar seu filho transexual funciona. (transexuais masculinos FTM existem!).

Atravessei a rua justo naquele dia em que meus vizinhos estavam todos de olho na vida alheia e meu vestido florido deu um sorriso pra eles. Juro que me senti super independente ao olhar aquelas criancinhas com olhares esbugalhados e aqueles velhinhos fingindo que não tinha nada de diferente, por que jamais contrariariam meu pai na frente dele. Mesmo assim, eu sabia que no virar das costas as tesouras afiadas fariam seu papel com muito prazer, como só os mais maledicentes conseguem fazer.

Quer saber, ninguém havia dito que seria fácil. E de repente uma porta se abriu. Consegui um trabalho do outro lado do Brasil. Como era competente, o telefone tocou: “preciso de um projeto você faz?”. Claro que faço, mas hoje sou Alessandra Saraiva. Tanto faz, tanto fez. E os clientes continuaram pedindo serviço. Sorte! Escolheram bem, o serviço era de qualidade e o preço baixo. Tornei-me competitiva e parece que fazia efeito, mesmo em termos práticos, sendo a Alessandra Saraiva, uma transexual, ela era com certeza alguém que fazia um bom trabalho. – e ainda faz!

O trabalho evoluiu e vim parar em São Paulo. A vida deu uma reviravolta e tudo foi acontecendo. A partir da minha decisão de me assumir, corri todos os riscos de perder família, amigos, clientes. Podia difamar meu nome – qual deles? – minha família, meus parentes, ser a humilhação da minha vida. Podia ficar sem chances de trabalho, ficar desempregada e ir parar nas calçadas, virar prostituta e em conseqüência me transformar em uma usuária de drogas e acabar me jogando do meu prédio. Semelhanças, mas não meras coincidências, pois é mais comum do que se pensa. Não só famosas se jogam de prédios.

Mas não foi isso que aconteceu. Hoje tenho dois trabalhos importantes, trabalho numa Ong renomada, estudo numa escola conceituada e sou respeitada como a mulher que sou. Tenho um grande amor, meus amigos são os mesmos e conquistei outros tantos. Minha família me ama, e estão todos me ajudando nessa. Minha identidade feminina está a cada dia mais fortalecida e hoje é uma realidade que não pode ser negada, muito menos ignorada. Alessandra Saraiva existe, pensa, produz, sente e vive. Não sou uma 


personagem que o Alessandro inventou. O Alessandro nem existiu na verdade, era apenas um recurso da Alessandra para sobreviver na tal sociedade. Mas quem disse que ela precisava sobreviver? Ela precisava era viver.

Sorte? Não acho que Deus me escolheu. Prefiro acreditar que fiz escolhas felizes, tomei decisões na melhor hora, encontrei as pessoas certas e agi. Procurei ser honesta com meus sentimentos e buscar o meu lugar, sem muito exigir, mas sem deixar que me pisassem. Fórmula não tem, mas quando a gente monta uma empresa, também não tem certeza que ela vai dar certo. O importante é que eu arrisquei e vou morrer feliz só por ter tentado.

E se sua vida não permite, tudo bem, não estou aqui fazendo propaganda. Cada pessoa vai escrever sua própria história, não vim aqui dizer que minha vida é melhor que a sua, ou mesmo garantir que assumindo sua transexualidade você vai ser feliz. Tem gente que morre depois disso. Mas tem gente que morre antes. E tem gente que morre com 17 anos correndo no carro que roubou do pai. Ninguém merece viver, se for pra viver mal. E eu demorei muito tempo pra entender o que era viver bem, pra poder não viver mal. Azar? Algumas escolhas insensatas. Mas tudo mudou depois que eu decidi ser melhor.

E sabe de uma coisa? Não vai ser fácil. Ninguém disse que ia ser.




De afeminadas a superfemininas

Falar de passabilidade, este termo que muito se ouve nos meios trans/travestis, e que indica o grau, que pode ser medido através de percentuais, o quanto somos femininas e confundíveis com mulheres genéticas é, com certeza, um desafio.

A passabilidade é praticamente uma benção a travestis e transexuais, por que nos dá a falsa, e me perdoem usar esta palavra, mas é falsa mesmo, sensação de liberdade. Uma pessoa trans que chegue ao tão sonhados 100% passável pode se dar ao luxo de ir e vir desapercebida, passando batida e sem medo ao lado do preconceito.

Porém, essa liberdade é falsa a partir do momento que se encobre à realidade, obrigando a pessoa a viver numa clausura intima. Ao menor sinal de ser descoberta, em seu mais íntimo segredo, a trans/travesti deixa de viver as glórias da mulher biológica e passa a ser relegada a segundo plano, tendo a construção da sua imagem associada à marginalidade.

Essa é uma grande verdade que tod@s estamos suscetíveis de viver. Ainda não sou 100% passável, mas meu grau de passabilidade já me permite ser respeitada por onde eu for. Péssimo falar nestes termos, mas sabemos tod@s o que acontece enquanto estamos em inicio de transição, fase andrógina, ou mantemos traços fortes do fenótipo masculino (ou feminino para transexuais mulher para homem) e os esforços que fazemos para nos tornar femininas, até mesmo superfemininas, ou supermasculinos, às vezes entrando numa neura de querer provar aos outros o que realmente somos.

Anteriormente éramos meninos gays afeminados, a partir da compreensão da identidade 

feminina e da decisão à transição, vamos aos poucos nos tornando mulheres e deixando o estigma da “bichinha” de lado para adquirir o estigma da “travesti marginal”. Os preconceitos de outrora dão lugar a novos preconceitos, e os xingamentos dos rapazes vão cedendo lugar aos assobios frenéticos e ao desejo reprimido de nos possuir.

A grande questão é que, até que cheguem aos 100% passáveis, a menina ou o rapaz trans sente uma série de conflitos e rejeições e convive diariamente com crises de baixa auto-estima. Para se livrar deste incomodo, muitos mergulham no álcool ou nas drogas, no consumismo exagerado ou mesmo criam uma capa vitimista que os paralisam diante da vida. Muitas vezes, não nos reconhecemos em atos autodestruidores, como paixões platônicas, autorejeição, autosabotagem e quando nos damos conta, estamos mergulhados em depressões ou com uma visão negativa da vida, achando que o mundo gira contra nosso favor.

Ainda na conquista da superfeminilidade, surgem os exageros do estereotipo feminino ou masculino, que se apresenta através do excesso de hormônios, do excesso de plásticas, de anorexias ou ansiedades patológicas e muitas outras representações da falta de auto-aceitação e também da falta de auto-afirmação.

A auto-aceitação proposta aqui está longe de ser a conformação com a situação a que se está relegado. Auto-aceitação consiste na conscientização da sua situação real, sem maiores ou menores tormentos, e de posse dessa consciência, tirar vantagens de si mesmo, tornando-se um ser melhor. Aceitar como diz o dicionário é admitir, se quiser ampliar esta visão, receber com agrado. Admitir que somos mulheres ou homens com especialidades e não se enganar que nascemos biológicas, foi só o tempo que errou.

Pra quem acredita no Divino, receber com agrado a dádiva de ser transexual. Mesmo com todas as mazelas que se apresentam, pois ninguém pode duvidar de que, após todo sofrimento, nos tornamos pessoas melhores e mais humanas, ao menos aquelas que souberam aproveitar bem as lições, sem vestirem a capa vitimista do “eu não mereço isso”.

Essa aceitação de si mesmo e da sua realidade, diminui as ansiedades em relação ao futuro, principalmente àquelas pessoas que estão à beira do suicídio caso não realizem logo a SRS, ou cirurgia de mudança de sexo. Podemos sim, e até devemos, viver bem, na medida do que nos é possível, conosco e nosso corpo, assim mesmo como ele se apresenta agora, por que mais triste é anular a própria vida para ilusoriamente querer viver depois da cirurgia, como se fosse exclusivamente isso que fosse mudar pra sempre a nossa vida.

Não deixe para perceber amanhã a beleza da sua transformação. Hoje estou eu aqui, com peitinhos púberes, pêlos me comendo o rosto, músculos ainda salientes, sem ter a mínima noção de como concretizar minha SRS, mas seguindo todos os dias dando graças ao Universo por estar viva e podendo ver estas mudanças acontecerem, por que um dia eu vou poder olhar pra trás com um sorriso no rosto e dizer: Venci! E não precisei chorar por todo o caminho, pois tive a graça de acordar e ver muitas flores onde os espinhos espetavam, e dei muitos risos onde muitos, que não tinham o meu problema, choravam.

Que possamos viver em paz desde já. Feliz Natal a Tod@s e um Próspero Ano Novo.

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