25 de ago. de 2011

Pacientes como mercadoria‏

Médicos revelam que vagas em hospitais são manipuladas e até doente com gripe vai para CTI

 

RIO - O vereador Paulo Pinheiro (PPS) deu entrada na terça-feira no pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação da máfia das internações, depois de conseguir a assinatura de 19 colegas da Câmara dos Vereadores. O número mínimo exigido era de 17 assinaturas. Agora, a instauração da CPI depende só da aprovação do presidente da casa, Jorge Felippe (PMDB).
- Fizemos ainda uma representação junto à Promotoria de Tutela Coletiva da Saúde do Ministério Público estadual solicitando a abertura de um inquérito civil público - informou.
Depois da reportagem do GLOBO de domingo revelar como funciona o esquema da máfia das internações, profissionais da saúde , pacientes e familiares de pessoas internadas forneceram mais informações sobre o caso. Médicos disseram que é comum se internar pacientes até sem necessidade só para garantir o recebimento da propina paga por empresas de remoção hospitalar e clínicas. Para encher seus leitos, as unidades de saúde dão dinheiro aos funcionários de ambulâncias em troca de doentes. Uma médica que trabalha em centros de terapia intensiva (CTIs) de hospitais cariocas conta que há pessoas sendo colocadas nessas unidades, mesmo quando o indicado é a internação em quartos.
- Já aconteceu de chegar paciente em estado grave na emergência e não haver leitos disponíveis no CTI porque tínhamos acabado de internar um doente sem indicação, até com sinusite e gripe. Questiono sempre o responsável da emergência se há necessidade de CTI, mas ele responde que é ordem da direção. Quando chega paciente de ambulância no CTI, o médico da emergência não pode reavaliar. De noite, é pior. Assim, não damos a atenção devida aos pacientes graves - diz a médica.
O advogado Paulo Roberto do Amaral acredita ter sido vítima do esquema quando procurou um hospital da Barra da Tijuca com uma crise de hipertensão, na companhia de sua mulher, no ano passado. Ao chegar, foi comunicado que precisaria fazer um exame não especificado e, por falta de equipamento, deveria fazê-lo em outra unidade. Depois de longa espera, Amaral foi transferido de ambulância para uma clínica em Laranjeiras. Chegando lá, para sua surpresa, não foi submetido ao exame, mas logo internado no CTI. Estranhando a informação de que faria o exame "no decorrer do dia", o paciente se exaltou e uma médica mandou sedá-lo.
- Retirei o acesso da minha mão esquerda e, somente de cuecas, fui à sala da médica. Ela disse que chamaria a segurança quando apareceu minha esposa com as minhas roupas. Eu me vesti e voltamos de táxi para casa - disse Amaral, acrescentando que, após a reportagem do jornal, passou a suspeitar de que pode ter sido vítima da máfia das internações.
Outro médico que já trabalhou na empresa de remoções Vida Emergências Médicas, envolvida no esquema, afirmou que a máfia prefere agir quando há profissionais recém-formados na ambulância que faz o atendimento. Segundo ele, na casa do paciente, os técnicos de enfermagem anunciam que é preciso internar o doente:
- Se o médico é recém-formado, eles sabem que é mais fácil manipular. Se for mulher, acham melhor ainda. Você é coagido a internar. Saí porque não aceitava isso - contou.
O médico disse ainda que a alegação de falta de vagas em grandes hospitais pode ser uma desculpa para levar pacientes para uma unidade do esquema.
- Um dia, fui atender um paciente em Copacabana e disse à equipe que precisava interná-lo em quarto. O familiar queria um grande hospital de Copacabana, mas a central de vagas teria dito que não havia leitos vagos lá. Depois, soube que nem tinham feito contato com o hospital. Queriam levar o doente para a Casa de Saúde Grande Rio, em Cordovil. Como um parente não aceitou, orientei que ele fosse por meios próprios à emergência do hospital em Copacabana.
O delegado titular Marcos Cipriano pretende chamar para prestar esclarecimentos representantes dos hospitais e funcionários das empresas de remoção hospitalar envolvidos no esquema que distribui propinas em troca de pacientes para internação . A atuação da máfia levou ainda o presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ), Pedro de Jesus, a anunciar uma força-tarefa com 37 fiscais para inspecionar as firmas de remoção do Estado do Rio que constam do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Segundo ele, há cerca de cem dessas empresas no Rio.

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